03/07/2015

Luto

Há uma peste negra dentro das fronteiras do meu pensamento. Não o sei dizer de outra forma.
Há uma praga que se alastra em veneno pela raiz do meu raciocínio, condenando toda a possibilidade de imaginação. Se paro, a doença palpita ensanguentada e em êxtase; se respiro, é o ar que a inflama e acelera a propagação.
Como nas tragédias, nada de belo há nisto, somente um registo de assalto e vandalismo sem rosto ou razão. A cada dia, o terreno do meu sentido torna-se vácuo mais profundo, manso, estéril. Toda a ordem desaparece, levando consigo as dúvidas, as certezas, qualquer aspiração.
A cada manhã, é um país inóspito que se ergue dentro de mim. Um lugar de nada, de ninguém, apenas com espaço para a peste, negra, que persiste.
O flagelo é escuro. É uma cegueira tão negra que me torna incapaz de prosseguir.
Para onde vou, o que faço? Que luto é este que me chega onde sou eu quem desvanece?

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