04/01/2016

Paixão

Há vestígios de festa por toda a cidade.
Há ondas gigantes a rebentar por toda a costa.
No intervalo entre uma última canção e a espuma do mar a crescer, há um homem que toca uma mulher. Toca-a como um homem toca uma mulher, o que muito se assemelha a um verdadeiro oceano. Ora meigo, ora bravo, ele toca-a como quer e ela sabe que é exactamente aquilo o que tentaram descrever todos os poetas.
Ela toca-o e toca em todo o oceano. As suas mãos mergulham no corpo do homem e tanto descansam e flutuam como se enrolam na ondulação mais violenta da tempestade.
Estar apaixonado é descobrir o oceano.
O homem toca a mulher e ela nada sabe sobre o amor. Sabe lançar-se na corrente e suster a respiração a rir.
Ao abandoná-lo, ela percebe que há vestígios de festa por toda a cidade, que há ondas gigantes a rebentar por toda a costa. Pensa no homem, no fundo dos olhos do homem, imersos pelas águas mais cativantes de que se lembra.
Ela sente o quão é difícil ter de largar um oceano.