25/02/2016

Pinheiro

O pinheiro da propriedade vizinha à casa de meus pais era uma árvore lindíssima, o verdadeiro farol da rua, mais alta que todos os telhados das casas.
Lembro-me da presença do pinheiro na minha infância, a vigiar todos os passos da minha infância, a partir do quintal do lado, como naquela primeira vez que subi para uma bicicleta de criança.
Pelo Natal, era costume o meu vizinho sufocá-lo de bolas e farripas, então o pinheiro inchava de vaidade e eu não resistia. Todos os Invernos me apaixonava por ele.
O pinheiro crescia mais depressa do que eu, vivia num espreguiço sem fim, e eu encantava-me com aquilo. Não havia árvore mais bonita e fiel no mundo.
Uma destas tardes, chegando a casa de meus pais, vi que o pinheiro já lá não estava. Os novos proprietários da casa vizinha tinham derrubado, sem aviso e sem dó, a árvore mais bonita do meu mundo. Foi como se a tivessem feito desaparecer por magia, pois nada dela deixaram para lembrança. Simplesmente a tarde caiu, eu cheguei a casa de meus pais e o farol da minha infância já não existia.
O espaço vazio daquele quintal faz-me agora pensar na efemeridade da vida, até para um pinheiro. Principalmente para um pinheiro que é o ponto de observação privilegiado de uma rua, tudo sabe sobre ela e não dá sinais de querer morrer.
Sinto saudades e penso na criança que eu era e só ele, gigante, guardava.
Aquele pinheiro foi uma árvore lindíssima, mais alta que todas as pessoas da minha infância.

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